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terça-feira, 13 de janeiro de 2015

A LIBERDADE NÃO É SOLITÁRIA

“Não alcançamos a liberdade buscando a liberdade, mas sim a verdade. A liberdade não é um fim, mas uma conseqüência”. (Léon Tolstoi)

Também disse: “Je suis Charlie”. Também gritei por liberdade. Também repudiei e continuo repudiando todo ato de violência contra a liberdade de expressão. Existem alguns “hadith (tradições com valor jurisprudencial, logo abaixo do Alcorão) que proíbem explicitamente os muçulmanos de criar representações visuais e figuras de Maomé. Mas os jornalistas e cartunistas do Charlie Hebdo não eram muçulmanos. Não estavam limitados pelas leis e regras do Islã. Por isso o atentado que matou 12 pessoas na sede da revista Charlie Hebdo, no dia 07, como represália pelos cartuns que satirizavam o profeta Maomé, repercutiu no muno todo. Nas primeiras páginas de quase todos os jornais do mundo foram estampadas manchetes com os dizeres: “Barbarie”, “Guerra contra a liberdade”, “Somos todos Charlie”, “A liberdade assassinada” e alguns estamparam a primeira página em negro, representando luto. Toda violência contra a liberdade e ou contra o ser humano deve ser repudiada veementemente. A reação da imprensa se justifica. Mas a liberdade não é solitária.

Os argumentos acalorados que surgiram em defesa da liberdade de imprensa e da liberdade de expressão gerou uma interrogação em minha mente. Todos falam dessa liberdade como se ela fosse absoluta. Será que a liberdade de expressão é absoluta, não corre risco, não tem responsabilidade? Entendo, como afirmam os filósofos, que a liberdade é inerente ao ser. Que a liberdade de expressão é um dos pilares da democracia. Mas também entendo que a liberdade precisa ser embasada em princípios e valores. Um dos princípios é o respeito ao outro. Não posso em nome da liberdade ofender, menosprezar, ridicularizar, humilhar, mentir, difamar, caluniar o outro.

Lembro-me de uma partida de futebol entre o Corinthians e o Palmeiras, final do campeonato Paulista de 1999. Com o título praticamente garantido, Edilson, jogador do Corinthians faz umas “embaixadas” e malabarismos com a bola. O lateral Junior e o atacante Paulo Nunes do Palmeiras não gostaram e partiram para cima do corintiano desencadeando uma briga generalizada. Edilson tinha habilidade e liberdade para provocar o adversário, mas correu o risco e foi o responsável pelo tumulto.

Não existem justificativas para o que fizeram contra a revista Charlie Hebdo. Mas a reação contra eles deve servir de reflexão sobre os limites da liberdade de expressão. Muitos vão dizer que liberdade limitada não é liberdade. Mas a liberdade de expressão não é solitária, ela é companheira da verdade e do respeito ao outro. Estes são os seus limites.


Ezequiel Luz

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