MEUS PARCEIROS

sábado, 30 de abril de 2011

O TRABALHADOR E A PALAVRA

O TRABALHADOR E A PALAVRA

“Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças [...]” (Ec 9.10).

Hoje, domingo, primeiro de maio, é comemorado no mundo todo o Dia do Trabalho. Na maioria das vezes  as comemorações, cartazes, discursos, lembram muito o trabalho pesado do operário da indústria, da construção civil, da roça. Pouco é lembrado o trabalho daqueles que operam com as palavras, como o professor, o advogado, o jornalista, o escritor, o poeta, o teólogo, o pastor e assim por diante. Quando ainda garoto, meu pai achou conveniente que eu tivesse um trabalho. Sempre que saia para realizar um “bico” (trabalho informal) de eletricista ou encanador, me levava para auxiliá-lo. Até hoje sou grato a ele por ter me ensinado o valor do trabalho. Mas quando decidi estudar teologia ele me perguntou: “Mas você precisa trabalhar para se sustentar, vai trabalhar com  quê?”

Em princípio, devemos lembrar que há muito trabalho tanto para quem escreve e fala quanto para quem lê. A produção de texto (escrito ou falado) e sua compreensão requerem um complexo processo neurológico e cognitivo dentro do cérebro. Tive um professor que costuma dizer que o suor do cérebro ninguém vê. O cérebro trabalha duro quando se escreve e também quando o leitor se engaja na construção de sentidos do texto. A leitura é um trabalho social, que exige a interação de dois sujeitos – autor e leitor – no atendimento de necessidades socialmente determinadas.

Outra coisa a ser lembrada é que a palavra tem vida, tem história. Ela também tem infância, juventude, maturidade e pode até desaparecer, deixar de ser usada pelos falantes. Com o passar do tempo ela perde alguns significados e adquire outros. Recentemente o pastor Ricardo Gondim escreveu um artigo intitulado: “Deus Nos Livre de um Brasil Evangélico”. Pouco tempo depois o bispo anglicano Robinson Cavalcanti também escreveu um texto com o titulo: “Deus Não Nos Livre de um Brasil Evangélico”. Gondim usa o termo evangélico para descrever o fenômeno religioso do nosso tempo que não possui referencial bíblico-teológico nem ético e moral. Cavalcanti usa a mesma palavra para se referir ao movimento que, no século XIX, chega ao Brasil como símbolo da modernidade e da liberdade. Os evangélicos dessa época tornaram-se uma influência positiva para a cultura e para os brasileiros. Gondim quer que Deus nos livre da influência negativa do movimento evangélico atual, enquanto Cavalcanti quer que Deus não nos livre da influência positiva do movimento evangélico do século XIX. O termo evangélico não tem hoje o mesmo peso e significado que teve no passado. Por esta razão os trabalhadores – autores e leitores – precisam refletir sempre sobre a construção dos sentidos de uma palavra e tratá-la com carinho.

O profeta Isaias, referindo-se a palavra de Deus feito gente, Jesus, afirma: “Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma” (53.11). Através da fé somos o resultado dessa palavra encarnada. Portanto, o trabalhador e seu trabalho devem glorificar a Deus.

Soli Deo Gloria
Rev. Ezequiel Luz

sexta-feira, 22 de abril de 2011

CRISTO JÁ RESSUSCITOU! ALELUIA!

“Ele não está aqui; ressuscitou, como tinha dito. Vinde ver onde ele jazia” (Mt 28.6)


Más notícias abalam nossa estrutura, mudam nosso humor, transformam o nosso dia, azedam nossos relacionamentos e alguns casos chegam a deprimir. Já a boa notícia é como o favo de mel, doce para o paladar e bom para a saúde. A boa notícia alegra o nosso dia, abre a janela para que um raio de luz entre em nossa alma, dinamiza nossos relacionamentos e em alguns casos pode nos fazer pular, gritar, cantar.

Lucas conta que dois discípulos a caminho de Emaús comentavam as últimas notícias da sexta-feira. Jesus se aproxima e caminha ao lado deles, mas alguma coisa não permitiu que o reconhecessem. Percebendo o semblante triste e abatido deles pergunta sobre o que conversavam. Eles admirados respondem: “Será que você é o único morador de Jerusalém que não sabe o que aconteceu? Jesus de Nazaré, profeta poderoso em atos e palavras foi entregue pelos nossos líderes para ser condenado à morte e o crucificaram. E a nossa esperança era que ele iria libertar o povo de Israel. Porém já faz três dias que tudo isso aconteceu”. Era a má noticia da sexta-feira.

Jesus tinha a boa notícia do domingo. Mas para recebê-la, os discípulos precisavam compreender o que as Escrituras tinham a dizer sobre a má notícia da sexta-feira. Por isso começando por Moisés e passando pelos profetas explicou que os acontecimentos envolvendo Jesus eram necessários para que ele fosse glorificado. Ao chegarem Jesus é convidado a entrar. À mesa, parte o pão e é reconhecido para logo desaparecer. Os discípulos entusiasmados com a boa notícia comentam: “Por isso o nosso coração queimava dentro do peito quando ele nos falava na estrada e nos explicava as Escrituras Sagradas”. Voltam para Jerusalém, encontram seus amigos e divulgam a boa notícia do encontro com Jesus vivo.

Aquele que conhece as Escrituras reconhece a má notícia da sexta-feira como inevitável. Reconhece também que o domingo é a boa noticia da ressurreição, é a boa notícia da vitória sobre a morte e sobre o pecado. O domingo é a boa notícia da nossa salvação. Agora reconciliados com Deus somos salvos pela vida de Cristo (Rm 5.10).

A boa notícia que temos para compartilhar com todas as pessoas é esta: O túmulo de Jesus está vazio. Cristo já ressuscitou! Aleluia!

Soli Deo Gloria
Rev. Ezequiel Luz

sábado, 16 de abril de 2011

CONTRADIÇÃO DO DOMINGO DE RAMOS

“E as multidões, tanto as que o precediam como as que o seguiam, clamavam: Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas maiores alturas!”(Mt 21.9)

Em um vídeo divulgado pelo Jornal Nacional da TV Globo, o atirador Wellington Menezes de Oliveira que atacou uma escola em Realengo faz a seguinte afirmação: “A nossa luta é contra pessoas cruéis, covardes, que se aproveitam da bondade, da inocência, da fraqueza de pessoas incapazes de se defenderem”. Pois foi exatamente o que ele fez. Covardemente aproveitou-se da bondade de funcionários da escola, da inocência e fraqueza das crianças incapazes de se defenderem e concretizou o que sua mente doentia havia planejado. À atitude oposta ao que se dissera anteriormente ou à discrepância e incoerência entre idéias e sentimentos damos o nome de contradição.

Pois bem. Hoje no calendário cristão é o Domingo de Ramos. Lembramos a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. As pessoas o receberam com honras de rei, espalhando folhas de palmeiras, símbolo da vitória, e suas próprias vestes pelo chão. Essa atitude do povo é a expressão mais clara da contradição que havia entre a expectativa da redenção imaginada pelo homem e a que Deus planejou para salvar a humanidade.

A vitória que os compatriotas de Jesus imaginavam era muito pequena perto daquela que ele veio conquistar. Também a maneira pela qual ela seria alcançada era totalmente diferente daquela imaginada pelos lideres da época. A redenção do povo não seria alcançada pela força das armas, mas por sua morte na cruz. Jesus veio para libertar toda a humanidade e para reconciliar todas as pessoas com Deus. Jesus veio ao mundo, assumiu a forma humana, foi obediente até a morte. Assim conquistou a vitória. Essa é a maneira de Deus agir. Algo totalmente inimaginável para o ser humano.

O homem que entra em Jerusalém, assentado em um jumentinho e aclamado como rei, naquela mesma semana ouviria da mesma multidão: “Crucifica-o. Crucifica-o”. Depois de receber toda sorte de castigo, gozação e uma coroa de espinhos, seria crucificado. Na sua cruz escrevem: “Este é o Rei dos Judeus”. Mas o verdadeiro Rei, o redentor de todo o povo, emergiria do túmulo no Domingo de Páscoa. Com ele a vitória sobre a morte, sobre a injustiça, sobre o pecado que nos separa de Deus. Essa vitória, conquistada por Jesus é para toda a humanidade.
O Domingo de Ramos é uma oportunidade para refletir sobre as nossas contradições. Muito do que declaramos, confessamos e prometemos no culto não tem correspondência com o nosso dia-a-dia. Também as nossas expectativas quanto ao que é benção não são as que Deus tem preparado para nós. No Domingo de Ramos devemos confessar nossos pecados e receber a Jesus como Rei que nos libertou plenamente,  e nos dispormos a servi-lo com tudo o que temos e tudo o que somos.

Soli Deo Glória
Rev. Ezequiel Luz

sexta-feira, 8 de abril de 2011

FAZER DO LIMÃO LIMONADA

“Deixai vir a mim os pequeninos e não os embaraceis (...)” (Lc 18.16).

Na quinta-feira, 7 de abril, a notícia de um massacre sem precedentes na história brasileira, ocorrido em uma escola municipal no Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro, é rapidamente espalhada pelo mundo. Wellington Menezes de Oliveira, 23 anos, armado com dois revolveres e farta munição, se apresenta como ex-aluno, entra em pelo menos duas salas de aula, faz uns 60 disparos e mata 12 crianças – 10 meninas e 2 meninos. Uma guarnição da PM  há alguns metros da escola é avisada e rapidamente chega ao local. Encontra o atirador, que depois de ser baleado por um sargento, atirou contra a própria cabeça, segundo a PM.

Nesse dia minha esposa fora me buscar no trabalho para almoçar. Disse-me que ouvira no rádio a notícia de que uma escola no Rio de Janeiro tinha sido invadida por um atirador que assassinara várias crianças. Pelo tom da voz percebi que ela ficara impressionada. Achei que era exagero. Almocei e fui ver o noticiário na TV. Percebi que o acontecimento era, de fato, gravíssimo. Imagens do ataque se repetindo, crianças ensangüentadas, pais desesperados, depoimentos consternados. Pronunciamento do governador e do prefeito exaltando o sargento que interrompera um massacre que poderia ter sido bem maior. Visita do Secretário da Saúde, da ministra da Secretaria dos Direitos Humanos e da secretária nacional dos Direitos da Criança e dos Adolescentes.  Discurso da presidenta Dilma Rousseff que se emociona ao propor uma homenagem aos brasileirinhos que foram retirados cedo da vida. Tudo isso revela que o país fora pego de surpresa. O Brasil não está acostumado com crimes dessa natureza acontecendo em seu território.

Depois do impacto começaram as perguntas sobre as motivações e sobre o perfil do atirador. Filho de uma mulher com problemas mentais. É adotado. Mãe adotiva morre. Vai morar sozinho. É introvertido, tímido, não tem amigos e nunca namorou. Sente-se rejeitado e humilhado pelas meninas. Passa horas e horas na internet. Fala coisas desconexas. Demonstra admiração pelos homens que atacaram as torres gêmeas nos EUA. Perfil psicótico de uma criança que durante sua formação acumulou rejeição e humilhação. Na juventude surta a ponto de cometer uma barbárie.

Na carta deixada pelo atirador não há motivo para relacioná-lo a algum fundamentalismo religioso. Certamente, durante muito tempo vamos discutir e  analisar esse caso sem conseguir decifrá-lo. “Se a vida te der um limão, faça dele uma limonada” diz a sabedoria popular. O massacre do Realengo é o limão dado ao Brasil. Com a graça de Deus, precisamos fazer dele uma limonada. Para isso temos que obedecer ao ensino de Jesus e refletir sobre o que pretendemos fazer com nossas crianças e adolescentes. Essa tragédia tem que levar-nos a cuidar melhor delas, dando um suporte familiar e educacional que garanta uma formação cidadã muito bem fundamentada. Deve levar-nos a ensiná-las, com palavras e exemplos, o valor do respeito e amor ao próximo.

Soli Deo Glória
Rev. Ezequiel Luz

sexta-feira, 1 de abril de 2011

FILHOS DA LUZ

“Por isso vivam como pessoas que pertencem à luz, pois a luz produz uma grande colheita de todo tipo de bondade, honestidade e verdade” (Ef 5.8b e 9 NTLH)

O ex-vice-presidente da República, José de Alencar, faleceu na última terça-feira, 29 de março, em São Paulo. Mineiro de Muriaé, o empresário do setor têxtil que entrou para a política e transformou-se em vice do ex-presidente Lula, estava internado no Hospital Sírio-Libanês. Alencar lutava contra um câncer desde a década de 90. Ao longo destes anos foi submetido a 17 cirurgias. A primeira delas foi em 1997, quando passou por um procedimento no rim e no estômago. Desde 2006, foram vários procedimentos para tratar o câncer no abdome. Uma das mais complicadas operações foi realizada em janeiro de 2009, quando o ex-vice-presidente ficou por 17 horas em uma sala de cirurgia. José de Alencar, através da sua luta contra a doença, firmou uma imagem positiva, de guerreiro e otimista. Muitos afirmavam que sua força vinha da fé em Deus.

Outros fatos envolvendo a fé ocuparam espaço na mídia na ultima semana. O pastor e deputado Marcos Feliciano, usou um micro blog na internet para afirmar que as dificuldades enfrentadas pelo continente africano são provenientes de uma maldição, vinda dos tempos de Noé. A reação de vários seguimentos da sociedade foi imediata. E o parlamentar pode enfrentar processo na câmara e na justiça, se a afirmação for considerada crime de racismo. Também um ataque de mulçumanos ao Escritório da ONU no Afeganistão, deixando vários mortos e feridos, chamou a atenção da imprensa mundial.  O motivo do protesto foi a queima de um exemplar do Alcorão promovida pelo pastor Wayne Sapp em 20 de março, em uma igreja da Flórida, nos EUA. Estes dois pastores firmaram uma imagem de radicalismo, intolerância, e disseminadores do ódio.

Para um tempo como o nosso o apóstolo Paulo deixa uma receita preciosa para uma vida bonita e que impressiona. Viver como filhos da luz. Significa ter a certeza de que ninguém e nada pode denegrir a nossa imagem. Pois ela não é fabricada por marqueteiro, mas é o reflexo da comunhão com a luz de Deus. Paulo afirma ainda que a luz produz uma colheita de bondade, honestidade e verdade. E exorta seus leitores a não participarem das coisas sem valor, próprias da escuridão, que os outros fazem. Ao contrário eles deveriam trazer tudo para a luz (Ef 5.11).

Não nos compete fazer nenhum juízo de valor. Mas ao trazer os fatos mencionados acima para a luz e ao analisá-los na perspectiva da colheita, quem mais se parece com um filho da luz? Alencar foi sepultado com honras de chefe de estado e colheu uma homenagem de milhões de brasileiros. O pastor Feliciano colheu uma forte reação dos afrodescendentes e das instituições de combate ao preconceito e ao racismo. O pastor Saap colheu um protesto violento dos mulçumanos. Precisamos levar a sério e praticar a receita de Efésios capítulo cinco, se queremos ser reconhecidos como filhos da luz.

Soli Deo Gloria
Rev. Ezequiel Luz